Review | Tokyo Clanpool
Desenvolvedora: Compile Heart
Publicadora: eastasiasoft
Gênero: RPG Dungeon Crawler
Data de lançamento: 19 de dezembro de 2024
Preço: US $39.99
Formato: Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela eastasiasoft.
Revisão: Manuela Feitosa
Tokyo Clanpool foi originalmente lançado para o PS Vita lá em 2017. Muita coisa de lá pra cá mudou, e agora o jogo veio a ser relançado no final de 2024 para o Nintendo Switch somente na Ásia, mas ainda assim com legendas em inglês. Desse modo, o jogo está disponível para quem quiser se aventurar nas masmorras de Tokyo Clanpool.
O governo está diferente do que me lembro…
Sendo um RPG Dungeon Crawler, seguindo mais ou menos a cartilha do clássico Wizardry — jogo que até a atualidade é uma das grandes influências no que diz respeito a RPG orientais, Tokyo Clanpool usa dessa formula relativamente bem, ainda colocando o toque da Compile Heart tanto na história quanto em toda a estética que o permeia.
Não imagino que qualquer pessoa vá chegar em qualquer jogo da empresa esperando grandes inovações, histórias profundas ou até mesmo uma gameplay viciante que excede em excelência — isso vindo de uma pessoa que gosta muito da série Neptunia, que é famosa por ser mais uma grande sátira da indústria, e sua característica moe do tipo “garotas fofas de anime fazendo coisas” do que por qualquer outra coisa.

Sempre foi um certo desafio trazer os jogos da Compile Heart para o ocidente, muito por se tratarem de jogos extremamente nichados e também por caírem no tropo de serem “japoneses demais”. Acontece que Tokyo Clanpool em especial tem sido vítima das mudanças da Nintendo of America no que diz respeito à censura, pois aparentemente a Big N tem ficado um pouco mais exigente com certos tipos de conteúdo, por assim dizer. Por conta disso, o jogo só se encontra disponível na eShop asiática, mesmo estando disponível com legendas em inglês.
Uma das tentativas feitas pela eastasiasoft e a Compile Heart para suavizar o jogo para possivelmente relançá-lo tanto no oriente quanto no ocidente foi remover um minigame que consiste em basicamente esfregar as personagens para concedê-las alguns buffs durante as batalhas.
WhatsApp futurista
O jogo se passa numa Tokyo futurista e levemente distópica, onde o governo se encontra em crise devido ao aparecimento de uma grande torre, partindo da misteriosa Reverse City no céu, conectando-se diretamente ao prédio governamental. A partir disso, monstros começaram a ameaçar a segurança do Japão, e cabe a Primeira Ministra, Natsume Kannuki, liderando a sua equipe de garotinhas de anime que exercem os mais diferentes cargos de governança na politica do país, a garantirem a segurança dos cidadãos japoneses.

Durante a sua aventura subindo a torre, o grupo de heroínas vai aos poucos aprendendo sobre a origem dos monstros e o ataque à cidade. Apesar de estarem o tempo inteiro enfornadas dentro da torre, nossas protagonistas também devem ficar de olho na aprovação dos cidadãos, visto que um alto índice de aprovação pode desencadear em vários buffs para a party durante a aventura.
E aqui vai um dos poucos aspectos interessantes da história que consequentemente se traduz em gameplay. Toda a aventura é televisionada, todos os cidadãos são capazes de ver, avaliar e torcer pelas garotas em tempo real, através do que parece ser uma espécie de rede social futurista. Ao final de cada sessão, quando o jogador volta pra base, os cidadãos também votarão na personagem que mais se destacou nas batalhas, dando-lhe buffs de experiência.

A premissa do jogo parece estúpida o suficiente para você? porque bem… para mim parece um pouco — mas não de um jeito bom. Não existe praticamente nada que se salva na história de Tokyo Clanpool, o jogo não possui personagens interessantes e carismáticas, e nem mesmo servem para arrancar uma risadinha de canto de boca.
Com uma premissa boba dessas fui esperando que o jogo fosse pender um pouco mais para o lado cômico da coisa, esperava uma pitada de ironia ou algo meio “autoconsciência do Deadpool” para justificar personagens e situações que normalmente seriam completamente vergonha alheia, com a habilidade de tirar sarro de si mesmo. A Compile Heart costuma ser boa nisso, vide os jogos da série Neptunia, mas o que acontece aqui são somente tropos vazios que me fizeram suspirar de desgosto. Por sorte, Tokyo Clanpool não se apoia muito na história. Fora a série de diálogos expositivos no inicio, o jogo pode seguir por horas sem muitas cutscenes, ou coisas do tipo.

Cérebro morto
Tokyo Clanpool não é um jogo bom; não ao menos no meu ponto de vista completamente subjetivo. No entanto, nem tudo é necessariamente ruim no título da Compile Heart. A fluidez em explorar o mapa e as formas com que é possível automatizar o combate são grandes triunfos do jogo, pois me remete diretamente aos Dragon Quests mais antigos após a implementação do sistema de Tactics na série. O que quero dizer com isso é que o jogo sabe que a taxa de encontro aleatório é alta e que um certo nível de grinding é necessário para avançar. Desta forma, Tokyo Clanpool usa seus sistemas para tornar o que normalmente seria um fardo em uma experiência mais fluída e agradável.

A automatização de batalhas pode ser um tiro com altas chances de acabar saindo pela culatra, fazendo com que o jogador passe a maior parte do tempo jogando com o “cérebro morto”, andando pelos corredores resolvendo puzzles nível jardim de infância e simplesmente vendo as batalhas acontecerem em sua frente com o pressionar de um único botão. Se o que procura for um jogo pra jogar para ocupar as mãos enquanto ouve um podcast, assiste um vídeo ou algo do tipo, aqui está um jogo que serve bem para isso, caso o contrário o jogo é apenas meio entediante.
Isso acontece porque Tokyo Clanpool é o tipo de RPG que pede mais preparo do que execução. Isto é, ao longo da jornada, passamos muito mais tempo construindo as personagens, escolhendo seus equipamentos, habilidades, e etc. Mas quando chega na hora de utilizar as personagens que passamos tanto tempo pra deixar do jeitinho que queríamos, isso acaba sendo reduzido a um combate extremamente tedioso que não oferece qualquer desafio.
Terminantemente medíocre
Não acho que o jogo precise ser difícil, mas acredito que poderiam haver maneiras de tornar o combate mais interessante, de estimular o jogador a utilizar estratégias novas no combate, criando sinergias entre as personagens. Vou usar o Final Fantasy XII como um exemplo; assim como Tokyo Clanpool, FFXII também é um jogo que se apoia muito mais em preparação do que execução, no jogo da Square Enix podemos programar quais tipos de ação serão executadas por cada personagem em cada momento, escolhendo ordem de prioridade para cada uma das ações. Chegando no momento do combate, simplesmente ver os personagens executando as suas estratégias já é satisfatório por si só, enquanto em Tokyo Clanpool, o jogo se dá por satisfeito quando você simplesmente coloca as personagens no modo ataque, ataque e ataque, o tempo inteiro.
No fim do dia, as builds que criamos servem unicamente para atropelar inimigos que encontramos ao longo do mapa. O grande problema que Tokyo Clanpool enfrenta como jogo é que o mesmo se apoia muito em gameplay — mais do que essa muleta consegue aguentar, e consequentemente acaba desabando. Não importa o quão teoricamente elaborado seja o combate se o jogo não oferece situação para utilizar de suas mecânicas, pois aí de pouco adiantará.

Não ajuda muito o fato de que o jogo é bem grande, mas bem grande mesmo. Se você é um pouco como eu e costuma se perder em mapas graças ao seu senso de direção digno de vergonha, não espere passar menos de 40 horas nesse jogo. Honestamente, não consegui me forçar a chegar até o final do jogo, muito por conta de todos os motivos que listei acima.
Poderia ser pior, mas poderia ser melhor…
De uns anos para cá, temos presenciado um certo um certo revival de RPGs Dungeon Crawler inspirados em Wizardry — por mais que ainda mantendo-se no nicho, sem ainda furar a bolha. Podemos citar o Labyrinth of Galleria, o relançamento da série Etrian Odyssey e o Class of Heroes como exemplo disso. Infelizmente, todos os defeitos de Tokyo Clanpool acabam desencadeando em uma completa bagunça de conceitos vazios e sem inspiração, o que transforma o jogo em um grande cemitério de boas intenções em meio a jogos que fazem o mesmo que Tokyo Clanpool se propõe a fazer, só que bem melhor.
Pros:
- Exploração fluida.
Contras:
- História e premissa horríveis;
- Combate sem graça e entediante;
- Jogo fácil demais.
Nota
5
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